Guga Arruda fala sobre a barca eclética nas Ilhas Mentawai.

Na primeira vez que fui para a Indonésia, em 1993, minha vida mudou. Tive uma nova concepção do que é surfe, afinal são cerca de 17 mil ilhas com as melhores ondas do planeta.

Quando fui para Mentawai pela primeira vez, tudo mudou novamente: ilhas paradisíacas lado a lado, separadas por canais azuis e ondas de todos os tipos, pequenas, médias, grandes, das mais suaves até as mais cascas grossas, das mais famosas até os secrets escondidos nos recantos e encostas. Como pode um lugar mexer tanto com a nossa cabeça e, principalmente, com nosso surfe que a cada sessão ganha mais evolução técnica e psicológica?

Depois de muitos anos lecionando surfe e realizando algumas clínicas entre Peru e Califórnia, tudo o que eu queria para os meus alunos era a oportunidade de ir a esse lugar e surfar as melhores ondas do mundo.

Quando conheci Kadu Maia e Bruno Veiga, proprietários da Mentawai Surf Charters, a ideia se concretizou e eles me convidaram para fazer o trabalho de técnico nos barcos Star Koat e Moon Palikir, navegando pelas ilhas Mentawai, dando treinamento de surfe para os alunos de todos os níveis, num projeto muito parecido com o que eles fazem com big rider Dylan Longbotton já há alguns anos, o Future Legends, que tem formado excelentes surfistas da nova geração como Kian Martin e outros.

Assim nascia o sonho de um grupo formado por mim, meu filho Arthur Arruda, o Tuco, meus alunos Nicolas Felipe, Kian Hauschildt, Patricia Bonina, Niccolas Padaratz – filho do grande amigo Neco Padaratz -, além dos amigos de Floripa Tom Carvalho e sua filha Julia Carvalho. E, pra fazer parceria comigo nas maiores ondas, o tube rider Alexandre Ribeiro, que fica na Indonésia com a família de três a quatro meses por ano.

Um grupo com surfistas de todos os níveis, desde os mais iniciantes até os mais avançados. A pergunta que ficou no ar era a seguinte: “Seria possível agradar a todos os níveis?”. Pois bem, por mensagens nosso surfe guia e fotógrafo Bruno Veiga me garantiu que sim. Promessa feita, promessa cumprida.

A cada dia da expedição de 11 dias pelas ilhas, cada um do grupo teve sua chance de surfar uma onda para o seu nível, mesmo no auge do swell que fez Greenbush quebrar clássico e eu e Xandinho pegamos alguns dos melhores tubos da viagem e da vida no período da manhã. A turma surfou à tarde em Malakopa, mais do que democrático, onde os iniciantes cortaram suas melhores paredes e os avançados treinaram aéreos e inversões de todos os tipos.
Bruno, como sempre, dando muita pilha de surfe, sempre mandando a galera ir pra água no lugar certo, na hora certa e fazendo altas fotos, enquanto Tatiana Topete, sua esposa, fazia as imagens em vídeo.

Cada caída rendia muito aprendizado para todos, tanto na técnica de surfar quanto na experiência com o mar e com a vida. à noite, na hora do slideshow, fazíamos a análise do surfe da galera para corrigir postura, leitura de onda e manobras, além de avaliar o funcionamento das pranchas e quilhas.

Pra quem pensa que uma trip para Mentawai é só surfe, faço questão de salientar o pôr do sol mais lindo que vi na vida a cada entardecer, mergulhos incríveis, remadas de Stand Up, além de muita relação humana e com a natureza, numa experiência quase atemporal, onde cada um evolui em todos os aspectos, obviamente físicos e técnicos, mas profundamente psíquicos e por que não espirituais. É a cultura surfe sendo vivida na sua essência.

Sou eternamente grato à Mentawai Surf Charters, muito bem representada por Bruno e Kadu, pela oportunidade, aos alunos e amigos por todos os aprendizados que me proporcionaram, e a Deus, por me permitir surfar as melhores ondas do mundo.

Agora vou deixar as imagens falarem mais do que as palavras e, desde já, começo meu trabalho pra fazer isso tudo acontecer novamente no ano que vem e nos próximos, porque ser feliz não tem preço. Ombak Bagus Sekali, Terimakasi Baniak.

Guga Arruda

Originalmente postado por Waves.com.br